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A mostrar mensagens de fevereiro, 2020
Democracia é sinónimo de representatividade. As melhores fórmulas encontradas até agora envolvem o voto distrital, o Recall, plebiscitos e referendos... e mesmo assim existem falhas. Até agora. Um estudioso sobre o assunto sugeriu no documentário "Democracia" da série "Uma História do Futuro" do Canal História uma proposta instigante. Conhecendo perfeitamente os anseios e reprovações da maioria dos eleitores, um algoritmo seria desenvolvido para ser utilizado na votação das propostas com quase 100% de garantia de representatividade... os deputados perderiam sua função e no seu lugar estariam especialistas nas diferentes áreas para preparar propostas... Dá o que pensar... 
De uma forma geral os países cobram três impostos das seguintes fontes: rendimento, consumo e património. No Brasil a legislação tributária prevê dezoito!!! tipos de impostos e contribuições nas esferas federal, estadual e municipal. A reforma tributária é urgente para a simplificação, transparência e principalmente a destinação útil desses recursos. Segundo a Receita Federal cerca de metade dos impostos provêm do consumo, um quarto dos salários e o outro quarto do lucro e do património. Objetivando-se a descentralização, desoneração e aplicação direta dos impostos, poderia ser proposta a recolha de impostos federais somente sobre os rendimentos para aplicação nas áreas da Saúde, Educação e Defesa, além é claro, da contribuição exclusiva para a Segurança Social. Os que incidissem sobre o consumo e património seriam recolhidos no estado, a reverter para os municípios/distritos nas mesmas áreas, sendo nesse caso no lugar da Defesa, a Segurança Pública. Sendo a arrecadação função
"Coroa vírus", "Caveira da Cedae", são nomes de blocos de rua do Carnaval do Rio nesse ano. Engraçados. Despertam de imediato uma reação agradável de brincadeira, ligeireza, descompromisso... É inevitável para um típico carioca, não achar divertido esse tipo de troça tão arraigada em nosso espírito brincalhão, transformando coisa séria em sacanagem, bicho papão em mamãe... Falando em brincadeira também, recebi um áudio que narrava uma suposta tentativa de assalto na Bahia... escuso dizer que o que seria sério tornou-se piada e, no meio daquele diálogo com o assaltante, uma resposta me chamou a atenção. Perguntado por que assaltava, ele respondeu quase enfadonho: "Tenho fome..." É natural. Se tenho fome, preciso comer, se preciso comer, preciso comprar comida, se preciso comprar, preciso trabalhar... não! Preciso roubar... Acordar cedo todos os dias e pegar um ônibus cheio pra ganhar um salário mínimo no fim do mês dá trabalho... é mais fácil roubar... n
Quando se fala de Portugal raramente lembramos de suas ilhas. Apesar de ser o 13º país em área na UE, está na 3ª posição quando nos referimos à zona económica exclusiva, graças exatamente ao mar territorial de suas ilhas, imenso patrimônio natural. O país possui duas regiões autónomas, os arquipélagos dos Açores e da Madeira; os Açores a meio caminho da América e a Madeira aqui ao lado de África. Essas duas regiões tão caras ao Brasil; os açorianos por terem vindo colonizar o litoral sul e a Madeira por ter servido de ponto de passagem para os viajantes na época da colonização, esses dois valorosos povos ilhéus marcaram profundamente o nosso país. Quem já passou pela estrada da Graciosa na Serra do Mar no Paraná, ou visitou a pequena cidade de São Francisco do Sul no litoral catarinense, pra não falar no extraordinariamente delicioso Barreado que se come na baía de Paranaguá, sabe o que é a alma açoriana encarnada naquele pedaço do Brasil. Da Madeira, nos primeiros tempos, veio
Apesar da economia e a emigração em busca de trabalho, Portugal também vem passando por um movimento migratório contrário. Cada vez mais torna-se o país de destino de muitos. Por que? Que o país tem clima agradável, belezas naturais, é pacífico e seguro, já é sabido há muito tempo. Que a população é amistosa e acolhedora, também. Que desde há muito tempo, e principalmente hoje, nesse mundo de ataques terroristas, quase ninguém fala desse pedacinho de terra encostado à Espanha, quase caindo pro mar. Já lá se vão os tempos de Viriato que não queria nada com os romanos. O povo português veio formando-se de maneira especial e o resultado disso pode explicar essa predileção. De nada adiantaria um país dotado de vantagens, se seu povo não fosse o que realmente conta. Aqui cabe uma comparação ao Brasil que, mesmo nesse momento de total descrença da classe política, tem no seu povo a maior riqueza de todas elas. Pergunte-se ao estrangeiro que visita o país o que mais lhe impressionou e
Uma bica sff (se faz favor) Ainda comentando o pitoresco lusitano, é impossível não falar de certos hábitos que não deixam de espantar o incauto visitante brasileiro. O pessoal aqui respeita mesmo o sinal vermelho. Se tá amarelo, freia (dizem trava) porque o que vai na frente vai parar mesmo que seja de madrugada e não haja viva alma na rua. Na primeira vez que saí do hotel quando cheguei, fui caminhar até um restaurante. Parei numa esquina para um carro entrar na rua e o motorista parou. Fiquei o olhando, achando que estava fazendo alguma coisa errada ou estava fantasiado de brasileiro. O motorista fez sinal com a mão para eu passar e foi aí que percebi que o peão, como chamam o pedestre aqui, para mesmo o trânsito ao atravessar a passadeira (a faixa). Sorri e atravessei a rua todo ancho. Qualquer restaurante, mesmo uma tasca (botequim que serve comida) é impecável! O banheiro está sempre limpo e as mesas estão postas com todos os copos. Se não pedir vinho; um pecado aqui, ti
C’um caraças! Palavras e expressões com diferente significado são muitas entre nós e motivo de muita brincadeira, é claro por parte de nós brasileiros, sacanas por natureza. Mário Prata explorou muito bem isso no seu delicioso Schifaizfavoire de 1994. É inevitável para o marinheiro de primeira viagem não se atrapalhar e rir muito das coisas que ouve e não entende. É preciso algum tempo para acostumar-se com a pronúncia e mais outro tempo para conhecer e empregar bem todas as expressões lusitanas. Da mesma forma, certas palavras que usamos correntemente no Brasil, aqui como dizem, têm piada, porque não imaginam eles que se pode falar o português de outro modo que não o seu. Ficam mesmo surpresos e algo indignados. Em África (e não, na África…) fala-se nos PALOP’s (Países de Língua Oficial Portuguesa) o português lusitano, com sotaques próprios, excluídos naturalmente os regionalismos. Nós brasileiros tivemos mais tempo para mestiçar a língua e fazer mais brasileiros para falar
O tempo é mesmo uma diferença entre nós. E não é por causa do fuso horário. Nós brasileiros acostumados às americanices e correndo atrás do prejuízo, passamos pelo tempo e não o vemos passar… O português tem outro compasso; talvez porque tenha quatro estações e saiba esperar… Uma ocasião fui à uma loja e tirei a senha 33. A pessoa que estava sendo atendida era a senha 11. Estavam ali sentadas comportadamente cerca de 20 pessoas à espera. Como demorava muito, saí e ao voltar 15 minutos depois, ainda estava lá o mesmo senhor a ser atendido calmamente. Aproximei-me para ver o que acontecia e ouvi num tom de voz baixo e pausado: - Não, não. O senhor não entendeu. Vou explicar-lhe novamente… As 20 pessoas continuavam lá sentadas em silêncio… nenhum pigarro… Aqui tudo se faz sem pressa e pode ter certeza que o pedido do hamburger que se faz no terminal da loja vai demorar uma eternidade até chegar à bandeja… Qualquer reclamação pode ser compreendida; o atraso não. As coisas fazem-se
Ó pá! Nunca havia pensado em viajar para o exterior, muito menos viver fora. Casado e com 3 filhos pequenos, não havia condições sequer de planejar uma viagem internacional. Foi de um convite fortuito que surgiu a oportunidade que concretizou-se poucos meses depois. A mulher, consultada de imprevisto, concordou na hora, e lá fui eu sem a mínima ideia do que me esperava. Apesar da mesma língua e dos laços de sangue, Portugal é uma completa surpresa para o brasileiro. A primeira impressão sempre é marcante e não poderia deixar de ser a luminosidade transparente de Lisboa numa manhã de Junho para os olhos de um carioca, acostumados ao branco do seu céu. As pessoas; essas sim são como nós. Se estivesse em outra capital europeia as veria certamente como "gringos", mas em Lisboa não. A parecença é total e qualquer um na rua poderia ser meu primo ou um parente distante. As semelhanças ficam por aqui. Portugal é em tudo diferente e às vezes incompreensível
A invenção do trabalhador contratado com direitos legais foi a mais perfeita forma do capital aprisionar sua galinha dos ovos de ouro. Ornamentando suas pomposas paredes, o quadro do empregado que acorda, toma o transporte para o trabalho, cumpre sua jornada, retorna à casa para dormir e na manhã seguinte recomeça o ciclo, emoldurado com o dourado de suadas leis trabalhistas, fala por si só do que representa a outra pessoa, no caso o trabalho, em relação a si próprio, o capital. Duas pessoas. Uma que possui o capital e o coloca para render e a outra que trabalha para isso. Nada de mal nessa relação aparentemente injusta, porque dá a impressão de que uma trabalha para outra que não faz nada. De fato quem possui o capital não fica sentado esperando que o dinheiro lhe entre pelos bolsos, pelo contrário, também trabalha muito para pôr tudo a funcionar, e vai depender exclusivamente dele, que essa máquina continue a funcionar gerando riqueza para si, ao mesmo tempo que retribui o t
A causa indiscutível dos problemas socias está na desigualdade das condições económicas. Os experimentos de modelos económicos já demonstraram o acerto da economia de mercado. O liberalismo económico na Europa, onde se encontram as sociedades mais desenvolvidas, evoluiu para o Estado Social; Educação e Saúde de qualidade, gratuitos para todos, custeados pelos impostos sobre o rendimento privado. Esta fórmula, assegurada pelo exercício de governos democráticos e instituições atuantes, desequilibra-se sem a efetiva participação de todos. O entendimento desta equação, compreendida pelo usufruto desses benefícios e confirmada pelo voto, só é possível com a educação e a inclusão de todos na repartição da riqueza gerada. Bastaria a exclusão de uma parte que não fosse aquinhoada, para que se criassem desigualdades e, em consequência, problemas sociais. O interessante trabalho “O Espírito da Igualdade “ de Wilkinson e Pickett demonstra cabalmente a relação entre desigualdades e proble
Onde está a causa desse desastre? Na maior parte das vezes culpam-se os políticos, mas a resposta correta vem naturalmente logo a seguir: a educação. Pode-se dizer que a política é consequência da educação, tanto como o contrário. Entretanto se imaginarmos que medidas políticas permitiriam melhores níveis de educação, estaríamos esquecendo o verdadeiro elemento educador do indivíduo: a família; e nesse sentido podemos concluir que a boa educação familiar acaba por se refletir numa boa política. Em outras palavras, uma sociedade educada possui políticas corretas. Sem que haja pessoas educadas não é possível estabelecer políticas justas. Somos nós os culpados? Sim! É inegável essa afirmação, e não admiti-la só perpetuaria o problema social do qual emerge a má política e todas suas consequências. Deve ser através da família que se deve educar seus membros, e em extensão toda a comunidade, para que se enraízem os valores morais mais sólidos e caros nos quais se baseiam as sociedades
Porco fascista! Comunista desgraçado! Esquerda x Direita. Ainda é válido o debate ideológico? A velha classificação ainda define com exatidão suas diferenças? Os eleitores ainda movem-se por ideologias? Este debate já embotou-se há muito tempo e só serve para a maioria dos eleitores escolher o lado da arquibancada em que vão sentar-se para torcer, xingar, gritar até perder a voz e depois voltar para casa amuado com a derrota do seu time, ou então sair pela rua partindo tudo o que vê pela frente… aquele juiz fdp!… Diferentemente dos primeiros tempos quando a questão era fulcral; ou uma coisa ou outra. E por isso morria-se e matava-se. Acabou. Mudou de nome, apareceram o centro e os extremos. Aos princípios originais foram-se incorporando casuísmos consoante as necessidades de cada tempo e lugar. Acabou porque atualmente não emoldura os conceitos que evoluíram das ideias originais. É natural ver uma aliança entre extrema-direita com a extrema-esquerda. Enfim… Haverá ainda ideologi
Em todas estruturas sociais há classes dos mais fortes e dos mais fracos, sejam jovens e velhos, ricos e pobres. A evolução dos ideais de solidariedade e justiça originou costumes e leis para que os mais fortes protegessem os mais fracos. O Estado Social e a tributação progressiva são exemplos disso. A Justiça coíbe e pune os abusos das regras. O Ministério Público existe para defender os interesses em nome da sociedade. Em tese tudo está previsto e bem organizado. Inevitavelmente não é o que acontece pois a maior parte, mais fraca, da sociedade não é organizada e não se vê representada. A política dos regimes democráticos ocuparia esse papel se de fato representasse esse grupo, o que na prática não funciona assim. Admitindo-se que a esmagadora maioria não está preparada, e mesmo sequer interessada, em criticar e discutir os problemas que a afligem, temos a minoria, mais forte, totalmente livre para organizar governos que a favorecem, em detrimento dos mais fracos. A evolução do s
Faz parte da nossa natureza moral, do nosso primitivismo humano, amealhar coisas para depois trocar por outras que desejamos. Mais que precisamos, queremos ter coisas. É o nosso velho materialismo a funcionar. Inventamos o dinheiro para facilitar isso e ainda bem! Se assim não fosse, não poderíamos trocar nossa mão-de-obra por moeda, e com ela, além do pão nosso de cada dia, sermos livres para poder comprar as coisas que desejamos. É por causa dessa nossa necessidade que a tal “mão invisível” continua nos movendo e girando o mundo... Graças a isso vamos conseguindo estabelecer regras para viver em conjunto, escrevendo leis e recorrendo à sua força para manter tudo nos eixos… Sem o dinheiro e a troca do trabalho pelo salário não existiria o modelo de sociedade que conhecemos. Mal não faria para o nosso desenvolvimento se não fosse outra característica humana; a avareza, e com ela, o acúmulo da riqueza. Desde que inventamos a moeda de troca, vimos acumulando dinheiro e o concentra
Fato isolado? Mais uma vez a famosa estátua de Drummond em Copacabana foi vandalizada. Escrevi uma vez o que pode causar a falta do Estado no comportamento do cidadão. Há outro tipo de ausência que causa males maiores; a da família. O que representa um poeta, sua obra? Não se trata de gostar ou não de poesia mas sim o que expressa, ou melhor, representa: o sentimento, a beleza. O Belo não sensibiliza quem não conhece a harmonia; um ritmo de vida calmo e ordenado, onde nos sentimos protegidos, onde podemos potencializar nossas habilidades e corrigir nossos defeitos, onde começamos aprender a amar o outro do jeito que ele é, onde podemos abusar um pouco e passar dos limites, mas também receber as reprimendas e a correção necessária. Em uma palavra, a família. Passamos hoje por uma época em que a família vem perdendo seu papel de unir, proteger e educar. O permissivismo, o excesso de direitos e liberdades, a comunicação instantânea com tudo e todos e a indisponibilidade dos pais vê
O que tem o furacão Katrina com a crise brasileira? Parto de uma conclusão. O Estado enverniza o homem, e a falta dele, através da falta da Justiça e de sua força policial, faz quebrar esse verniz. Quanto mais o cidadão sente-se desrespeitado e ameaçado, mais descumpre as normas desses Estado e, em caso extremo, o próprio comportamento civilizado. Vimos em Nova Orleans, após a devastação causada pelo Katrina, o que pode fazer a falta do Estado. Vimos que a demora na ajuda e mesmo um certo descaso, num país que não se pode considerar incapacitado, causou saques armados, mortes e até mesmo violações nas ruas da cidade. Um lapso do Estado. Como explicar esse comportamento se não admitirmos que no fundo somos ainda primitivos e o que nos regula e contém nada mais é que a força da lei? São as normas sociais, a organização do Estado e suas instituições, tudo debaixo do olho da Justiça, que nos pincela com um pouco de verniz e nos faz parecer um pouco mais civilizados… Na verdade uma a
No Porto, um juiz justificou a violência física contra uma mulher que teria cometido adultério; citou a Bíblia e o apedrejamento. Fato isolado. Quantos outros pelo mundo nos chocam pelo absurdo ou parcialidade. É estarrecedor constatar essa fragilidade da Justiça. A instituição que criamos justamente para nos proteger, baseada na igualdade dos direitos e na objetividade das leis e dos costumes, sucumbe ora ou outra na subjetividade de um magistrado. Sendo os juízes, profissionais que têm o poder de decidir e sentenciar sobre quem contraria o Direito, também eles pessoas como nós, comuns humanos que erram, estamos todos irremediavelmente sujeitos a injustiças. Em alguns sistemas há mesmo a possibilidade de se condenar à morte quem possa estar inocente. A Justiça dos homens pode falhar e temos que conviver com isso. Apesar dos mecanismos criados para serem evitados tais erros, não se pode garantir que não haja. Seriam exceções ou é a regra? Abstraindo-nos de exemplos, foquemos o pri
A polémica causada por recentes exposições de arte e a massiva abordagem das questões sobre a sexualidade e o gênero humano na mídia e nas escolas têm originado alguma inquietação, e até mesmo uma certa revolta, de segmentos da sociedade que desaprovam esta tendência. O que até então era tido como avanço e modernidade esbarrou no conservadorismo de alguns. E não são poucos. O que está por trás disso? Não seremos assim tão modernos? Tomemos o seguinte argumento: “Sua liberdade acaba quando começa a minha.” Por mais liberais e modernos que sejamos, não contrariaríamos certamente esse princípio por que nesse caso, não haveria ordem ou o respeito pelo outro para se viver em grupo. O próprio conceito de viver em grupo nos obriga a abrir mão de alguma liberdade para que possamos viver em harmonia. As diferenças são aceitas até certo ponto. O que passa daí já não se considera normal, ou em outras palavras, aceito pela sociedade. O que a sociedade não aceita é proibido em Direito. Aquilo
Há um momento na vida em que nossos pais morrem e mesmo esperado tudo pára. A sensação da morte é um vazio que o tempo se encarrega de preencher. O vazio de um pai cabe ao filho ocupar, somos a continuação deles. Às vezes se vão quando não estamos perto, quando estamos de relações cortadas, ou mesmo quando deles nos afastamos muito cedo… não importa, vai doer do mesmo jeito. Um gosto metálico na boca como quem leva uma pancada, um aperto no peito como quem lhe foge o chão, um aturdimento como quem lhe é roubada alguma coisa. Esse momento passa porque é o sentimento da perda material. Quando o espírito se apazigua lembrando que a morte é uma partida, fica a saudade e ela é doce e calma. As lembranças ruins se desvanecem, as boas retornam com mais vigor e mais frequência ao longo do tempo. Nos surpreendemos iguais a eles, mesmo que não os tenhamos conhecido de verdade. Que relação tão forte e inexplicável essa que nos liga aos nossos pais? Que importância tão grande têm para n
Valores morais não mudam com o tempo nem de lugar para lugar. Se tomamos essa afirmativa como verdadeira, apesar do modo de vida mudar de geração para geração, permanecem esses valores, princípios que proporcionam o funcionamento saudável de todas as sociedades. A negação desses princípios acarreta “doenças” sociais cujos sintomas escondem sua verdadeira causa, ou seja, a falta desses valores. É comum uma geração julgar que “no seu tempo” as coisas eram melhores, porque apesar dos comportamentos mudarem, os valores não, e quando falta, ou mesmo pior, há a inversão desses valores, as ditas “doenças” sociais disseminam-se. A falta de Educação é acertadamente citada como a causa de muitos problemas sociais. Quando o ensino escolar se omite de sua parcela educativa, as gerações mais novas ficam à mercê do vil mercantilismo que campeia nos meios de comunicação, nomeadamente as redes sociais da internet, para onde estão mais voltados do que propriamente para a realidade do dia-a-dia.
Parto de duas citações. “Crianças sem disciplina e jovens sem orientação sadia constituem o gérmen dos imensos desastres humanos”. (Humberto de Campos) “No adulto está escondida uma criança, uma criança eterna em contínua formação, nunca perfeita, necessitada de vigilância e educação”. (C.G. Jung) A educação é a base de tudo e a falta dela a origem de todos os problemas. Toda criança precisa ser educada; cabe aos pais em primeiro lugar essa tarefa e isso só se dá quando os próprios são educados, caso contrário dificilmente seus filhos serão. Os adultos, na sua grande maioria precisam também ser reeducados tanto quanto os pequenos e, neste caso, pior essa tarefa, porque já estando formados com seus princípios e costumes, dificilmente aceitariam adquirir outra orientação de outros “adultos”. Cabe então aqui assinalar o único tipo de educação que resulta tanto numa criança como num adulto. A educação moral. O que é certo é indiscutível e está em todas as consciências. A qualida
É constrangedor constatar o comportamento infantil e displicente do brasileiro em relação à grave situação política em que vive. Para o olhar do estrangeiro é incompreensível e deprimente. Para um português que connosco se assemelha, motivo de chacota. Apesar de viver em muitíssima menor escala o drama dos escândalos políticos, não brinca com isso ou faz do sério problema, motivo de piada, quando muito escrachada nos carros alegóricos do seu comportado carnaval. Nada se compara à banalização do crime político, do mesmo modo com que se banaliza a violência, companheira arrasadora de todo brasileiro. Uma escritora portuguesa poetizou o modo de viver do brasileiro dizendo que este engana a vida com a alegria, por achar que a tristeza não faz parte da natureza. Eu endosso esse olhar estrangeiro sobre nós, mas complemento dizendo também que preferimos o engano a lidar com o problema. Está em nós essa fuga do sério trabalhoso e chato, para a brincadeira que é mais fácil e do gosto de to
Do ponto de vista de quem vive o momento, talvez não seja clara a mudança que se processa nas relações de trabalho e nas condições em que se assentam a estabilidade dos sistemas económicos e o funcionamento das sociedades. Num futuro não muito distante ficará patente este período de transição pelo qual passamos. A questão fundamental que origina esta mudança é o natural descontentamento e insatisfação do homem que descobre-se preso à dependência, contrariando o que lhe é mais caro, a sua liberdade, da condição de trabalhador remunerado para apenas sobreviver. Um escravo. A título de ilustração, refere-se aqui o conceito do RBI Rendimento Básico Incondicional, discutido atualmente em alguns países, como uma proposta para desvincular a necessidade de sobrevivência, da prática do trabalho. Ideia essa que, se acertada, libertaria o indivíduo da necessidade de rendimento para sobreviver, dirigindo sua capacidades e aptidões para o trabalho criativo, produtivo ou não. Inquestionavel
Dedicar-se ao trabalho. O que seria de nós sem o trabalho que, além do sustento, nos dá a possibilidade de criar, produzir e ser útil; escapar do ócio entorpecente. O emprego não é o mesmo que o trabalho; muitas vezes mal chega para o sustento, além de quase sempre não ser criativo e prazeroso. Como então dedicar-se ao emprego? Quando se está empregado é difícil haver a dedicação. Não há o envolvimento necessário que suscita o compromisso. A ideia é de que o emprego não é nosso e o que faço não é para mim. A sensação de ser explorado, de trabalhar para outro em troca de pouco prevalece. Para que empenhar minhas capacidades e criatividade em troca de algo que não me satisfaz? Desincentivar alguém que queira inovar no emprego é a pior coisa que se pode fazer; faz com que a dedicação que ainda possa haver desapareça definitivamente. Regra geral os empregos são detestados e o que mais se deseja são os fins-de-semana e os feriados. O dia-a-dia maçante é recompensado pelo sonho da apo
Os velhos. Falamos das crianças que fomos mas não dos velhos que seremos. O velho é assim como uma coisa desagradável que preferimos esquecer. Em Portugal, 1 em cada 4 pessoas tem mais de 65 anos. Proliferam os lares de acolhimento clandestinos. Depósitos de seres velhos que esperam morrer sem incomodar ninguém. Sabe-se lá em que condições arrastam seus dias, doentes e sozinhos, esquecidos pelos seus e deles próprios. Já não contam pra nada. São um estorvo que preferimos não ver. Descartados como qualquer item de consumo. Felizes daqueles que têm saúde e quem os ama e cuida. Grande parte tem pensões baixíssimas que mal pagam a enormidade de medicamentos que precisam, para não falar de uma alimentação adequada e atividades físicas e sociais. A pior carência entretanto não é material mas sim afetiva. Estão literalmente abandonados à sorte. Muitos sequer são levados para esses lares. São simplesmente deixados em suas casas até que, por total incapacidade morram sem que se note, até q