Fato isolado? Mais uma vez a
famosa estátua de Drummond em Copacabana foi vandalizada. Escrevi uma vez o que
pode causar a falta do Estado no comportamento do cidadão. Há outro tipo de
ausência que causa males maiores; a da família.
O que representa um poeta, sua
obra? Não se trata de gostar ou não de poesia mas sim o que expressa, ou melhor,
representa: o sentimento, a beleza. O Belo não sensibiliza quem não conhece a
harmonia; um ritmo de vida calmo e ordenado, onde nos sentimos protegidos, onde
podemos potencializar nossas habilidades e corrigir nossos defeitos, onde
começamos aprender a amar o outro do jeito que ele é, onde podemos abusar um
pouco e passar dos limites, mas também receber as reprimendas e a correção
necessária. Em uma palavra, a família.
Passamos hoje por uma época em
que a família vem perdendo seu papel de unir, proteger e educar. O
permissivismo, o excesso de direitos e liberdades, a comunicação instantânea
com tudo e todos e a indisponibilidade dos pais vêm deixando os mais jovens a mercê
de qualquer um modelo educativo; sem identidade, sem limites, sem tempo para
compreensão e sem afeto. Nesse ritmo de vida não há lugar para a sensibilidade
e, onde deveria haver admiração e respeito, só se encontra revolta e sentimento
de abandono. As crianças clamam por serem educadas e a falta da família influiu
negativamente no desenvolvimento de sua sensibilidade.
Ouvi certa vez uma educadora de
infância que trabalhava numa creche: – Custa-me receber o miúdo pela manhã,
ainda muito cedo, com a mesma fralda do dia anterior… Essas crianças tão
pequenas chegam aqui ainda a dormir, comem, vestem-se, têm todo tipo de
atividades, inglês, natação, excursões, cansam-se e saem muito tarde, a dormir
nos colos dos pais apressados, para voltar logo no dia seguinte sem qualquer
convívio com eles… Disse ela. – Tenho medo em pensar que tipo de adultos
teremos daqui a uns anos.
Não é pura nostalgia comparar o
convívio com a família e a educação das crianças de hoje com a nossa geração.
Não é a toa que países mais desenvolvidos apostam e gastam mais para que os
pais passem mais tempo com seus filhos pequenos. É necessário que assim seja
para que desenvolvam-se de forma mais afetuosa e respeitosa, com seus pais,
avós, professores, colegas, enfim, mais sociais e civilizados na medida em que
aprendem os limites, a respeitar as normas, a valorizar o sacrifício e a
recompensa e, não menos importante, aprender a reconhecer no Belo a harmonia
que desfrutam de uma vida organizada, simples e afetuosa.
É sintomático o comportamento
social de quem vandaliza, desrespeita e infringe a lei. Há sempre uma causa por
trás disso e a vamos encontrar na falta da família, ou no papel que devem ter
seus pais, ou seus substitutos, na vida da criança. É muito mais importante uma
educação mais calorosa e afetuosa que simplesmente primorosa em conhecimento e
habilidades.
Chamou-me a atenção, uma
reportagem na TV que entrevistava crianças dos 5 aos 6 anos, de uma escola internacional
em visita ao oceanário, ainda pequenos e marcadamente influenciados pela
formação recebida de seus pais. Perguntou a repórter a uma criança, o que tinha
achado dos pinguins e ela respondeu muito séria:
- São aves que têm penas, comem
peixes e vivem num lugar muito frio. Ao perguntar à outra criança que estava ao
lado, esta sorrindo disse meio encabulada:
- Anda engraçado e tem a
barriguinha branca…
Sejam nossos filhos educados com
mais carinho e atenção e teremos adultos que saberão apreciar mais a beleza e a
ordem. A sociedade agradece!
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