A invenção do trabalhador
contratado com direitos legais foi a mais perfeita forma do capital aprisionar
sua galinha dos ovos de ouro.
Ornamentando suas pomposas
paredes, o quadro do empregado que acorda, toma o transporte para o trabalho,
cumpre sua jornada, retorna à casa para dormir e na manhã seguinte recomeça o
ciclo, emoldurado com o dourado de suadas leis trabalhistas, fala por si só do
que representa a outra pessoa, no caso o trabalho, em relação a si próprio, o
capital.
Duas pessoas. Uma que possui o
capital e o coloca para render e a outra que trabalha para isso. Nada de mal
nessa relação aparentemente injusta, porque dá a impressão de que uma trabalha
para outra que não faz nada.
De fato quem possui o capital não
fica sentado esperando que o dinheiro lhe entre pelos bolsos, pelo contrário,
também trabalha muito para pôr tudo a funcionar, e vai depender exclusivamente
dele, que essa máquina continue a funcionar gerando riqueza para si, ao mesmo
tempo que retribui o trabalho com uma parte dessa riqueza.
Na diversidade dos homens existem
aqueles que têm habilidade para gerar riqueza e outros que não, mas que em
compensação têm qualidades que contribuem para isso. É somente a criação de
riqueza capaz de satisfazer tanto um como outro, e assim a famosa mão invisível
deixar todos contentes.
Fórmula mágica que oleia essa
máquina infernal de fazer o mundo girar. São os nossos desejos e capacidades
que harmonizam nossas diferenças e nos permitem viver em paz e prosperidade. Até
agora o Capitalismo tem sido assim, todos livres para usufruir de suas
capacidades e até mesmo poder mudar sua condição social. Até agora. Nesse ponto
da linha do tempo em que vivemos, ocorre um fenómeno que tem mostrado que o
economicismo que aceitamos tão naturalmente não é tudo. O capitalista e o
trabalhador, apesar de socialmente diferentes e aceitáveis, são também e
principalmente pessoas iguais, e como tal, com os mesmos sentimentos do que é
aceitável para si como uma pessoa livre e soberana. Esse fenómeno chama-se
ganância, e está fazendo com que um pise na linha vermelha do outro. A não
mudar esse comportamento, também tão natural da espécie, corre-se o risco de
entrar areia nessa bem oleada máquina. Como mudar o que é natural? Seria
natural mesmo?
Voltemos à linha do tempo, no
mesmo ponto em que estamos. Nem sempre foi assim. Houve um tempo em que os
ganhos não eram tão grandes e as retribuições suficientes para uma vida digna,
com menos desigualdades e, paradoxalmente, sem tantas leis trabalhistas. Um
tempo onde o sentimento de respeito e o sentido de harmonia preponderavam.
Havia menos riqueza e mais repartição. Inexplicavelmente o crescimento da
riqueza, ou a razão disso, fez com que se acumulasse tanto na mão de tão
poucos.
Conclui-se que a ganância não é
natural e como tal deve ser naturalmente combatida. Pensar o contrário é sentir
vontade de comer aquela galinha.
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