Apesar da economia e a emigração
em busca de trabalho, Portugal também vem passando por um movimento migratório
contrário. Cada vez mais torna-se o país de destino de muitos. Por que?
Que o país tem clima agradável,
belezas naturais, é pacífico e seguro, já é sabido há muito tempo. Que a
população é amistosa e acolhedora, também. Que desde há muito tempo, e principalmente
hoje, nesse mundo de ataques terroristas, quase ninguém fala desse pedacinho de
terra encostado à Espanha, quase caindo pro mar.
Já lá se vão os tempos de Viriato
que não queria nada com os romanos. O povo português veio formando-se de
maneira especial e o resultado disso pode explicar essa predileção. De nada
adiantaria um país dotado de vantagens, se seu povo não fosse o que realmente conta.
Aqui cabe uma comparação ao Brasil que, mesmo nesse momento de total descrença
da classe política, tem no seu povo a maior riqueza de todas elas. Pergunte-se
ao estrangeiro que visita o país o que mais lhe impressionou e ele dirá: as
pessoas. O Brasil teve a quem puxar.
É claro que a pertença à EU e sua
moeda única atraem aqueles que procuram trabalho e bem-estar. É claro também
que outros destinos migratórios são bem mais procurados por razões económicas,
mas só por isso. Quem quer passar o inverno todo encapotado ou não ter vizinhos
com quem se possa conversar? Nos primeiros meses aqui senti muito a diferença
no trato com as pessoas. Para um brasileiro era muito estranho entrar num
elevador com alguém e ficar pelo bom dia. Aprendi que na medida que nos
fazíamos conhecidos, e principalmente por sermos brasileiros, a conversa
brotava logo e corria solta… Com mais algum tempo já se conseguia trocar os
sorrisos por uma gostosa gargalhada… muito dinheiro e caras sisudas ou o
bastante para tomar uns copos e assar sardinhas com os amigos?… O que é mais
importante para as pessoas? Já viu algum eslavo rindo na rua? Aqui vejo
normalmente…
A geração do povo português pode
explicar. Uma vez, um colega que chegava do Brasil disse-me desdenhoso, dando
suas primeiras impressões: “Portugal não é Europa, é norte de África!”. Não
sabia ele que seu mau feitio invejoso tinha fundamento científico. Uma pesquisa
de uma universidade no Porto concluiu que grande parte do genoma português era
semelhante ao magrebino. De fato, do ponto de vista antropológico, estão profundamente
marcadas no português as influências dos povos do norte da África e do Oriente
Médio, inclusive o semita.
O que podia dar isso? No que se
vê. Um povo genuinamente simples e amigo de todos, tolerante e sábio no trato
com os estrangeiros. Não foi a toa o extraordinário sucesso de Portugal no
empreendimento de suas colónias. Graças exatamente à sua natureza mestiça e
mestiçante conseguiu ir tão longe e fazer melhor, o que os espanhóis e ingleses
mal fizeram. Enquanto os outros matavam, os portugueses casavam-se… Gilberto
Freyre escreveu muito bem sobre isso.
O povo brasileiro é assim como o
português, moreno na pele e viçoso no espírito, de trato simples e coração
amigo. Sabe que todos são iguais e como ele merece ser bem tratado. Essas
características um tanto ingênuas e românticas, ainda bem valem mais que
qualquer outra quando se escolhe um lugar para se viver.
Seja bem-vindo!
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