Valores morais não mudam com o
tempo nem de lugar para lugar. Se tomamos essa afirmativa como verdadeira,
apesar do modo de vida mudar de geração para geração, permanecem esses valores,
princípios que proporcionam o funcionamento saudável de todas as sociedades. A
negação desses princípios acarreta “doenças” sociais cujos sintomas escondem
sua verdadeira causa, ou seja, a falta desses valores.
É comum uma geração julgar que
“no seu tempo” as coisas eram melhores, porque apesar dos comportamentos
mudarem, os valores não, e quando falta, ou mesmo pior, há a inversão desses
valores, as ditas “doenças” sociais disseminam-se.
A falta de Educação é
acertadamente citada como a causa de muitos problemas sociais. Quando o ensino
escolar se omite de sua parcela educativa, as gerações mais novas ficam à mercê
do vil mercantilismo que campeia nos meios de comunicação, nomeadamente as
redes sociais da internet, para onde estão mais voltados do que propriamente
para a realidade do dia-a-dia. Admitindo-se que atualmente os pais têm menos
disponibilidade para educar seus filhos, cabe às escolas compensar essa falta,
sem obviamente protagonizar essa obrigação.
Proponho aqui um exercício de
reflexão ao fazer uma comparação, afastemo-nos é claro dos contextos de época.
Quando andava na escola pública, os meninos endiabrados, como todas as
crianças, deixavam apressados e suados suas brincadeiras ao ouvir a sineta que
indicava a formação para a entrada nas salas de aula. Formavam-se filas por
turma para cantar o hino nacional enquanto se hasteava a bandeira. Após o
momento solene, cantávamos canções de encorajamento e virtudes enquanto
caminhávamos ordeiramente para as salas de aula. Ali a professora mandava.
Lembro que para ir ao banheiro ou mesmo beber água era preciso pedir sua
autorização. No tratamento respeitoso, nos presentes que de nós recebia, havia
ali uma relação de respeito e gratidão pela educação que recebíamos, até mais do
que o próprio ensinamento que nos transmitia.
Uma das quatro ou cinco matérias
ensinadas era a Moral e Cívica. Matéria com programa, livro, caderno e provas
como qualquer outra. Aprendíamos o respeito pelos símbolos da pátria, a não
sujar a rua e respeitar os sinais de trânsito, a respeitar os mais velhos… Desnecessário
dizer que nesta matéria sempre tirávamos as melhores notas… era fácil para as
crianças assimilarem isso.
Briga de meninos era fora da
escola. Quem nunca brigou na rua. Se fosse dentro da escola ou qualquer outra
traquinagem mais séria, a repreensão era certa. Sala da Diretora para um
raspanete e se fosse caso disso, chamar a mãe para uma advertência. Isso era o
mesmo que se borrar nas calças! Aprendi que quando não se respeita, temos que
ter medo…
Até hoje sinto saudades daquele
tempo. Uma vez tive a oportunidade de levar meus filhos a conhecer minha velha
escola durante o período de férias. Estive no mesmo pátio com eles, subi à sala
de aula e sentei-me na mesma carteira. Lá estavam o mesmo quadro negro, agora
pintado de verde, e a caixa de giz. Escrevi meu nome no quadro com a mesma
caligrafia dos meus 7 anos… Apareceu ofegante à porta uma funcionária a
perguntar o que fazíamos ali. Expliquei que era ex-aluno e estava a matar as
saudades. Ela sorriu aliviada dizendo que há poucos dias a escola havia sido
roubada por meninos do bairro. Saudosismo?
Não se pode voltar atrás. Pode-se
sim corrigir o que está errado. A boa educação está no exemplo e coerência dos
valores de quem educa. Não se pode esperar que professores mal preparados, e
alguns mesmo sem valores morais, possam educar. Sabemos que no lugar de
despesas com instalações e material didático modernos, o investimento na
formação, seleção acurada de professores e remuneração adequada, certamente
inverteriam a situação atual. A título de comparação, na Escandinávia a
formação de professores é das mais concorridas e difíceis, além de ser das mais
respeitadas e bem remuneradas.
Tão importante quanto o saneamento
moral na política dos adultos está a educação moral dos pequenos também nas
escolas. É preciso passar uma borracha nisso e escrever de novo…
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