Os velhos. Falamos das crianças
que fomos mas não dos velhos que seremos. O velho é assim como uma coisa
desagradável que preferimos esquecer. Em Portugal, 1 em cada 4 pessoas tem mais
de 65 anos. Proliferam os lares de acolhimento clandestinos. Depósitos de seres
velhos que esperam morrer sem incomodar ninguém. Sabe-se lá em que condições
arrastam seus dias, doentes e sozinhos, esquecidos pelos seus e deles próprios.
Já não contam pra nada. São um estorvo que preferimos não ver. Descartados como
qualquer item de consumo.
Felizes daqueles que têm saúde e
quem os ama e cuida. Grande parte tem pensões baixíssimas que mal pagam a
enormidade de medicamentos que precisam, para não falar de uma alimentação
adequada e atividades físicas e sociais. A pior carência entretanto não é
material mas sim afetiva. Estão literalmente abandonados à sorte. Muitos sequer
são levados para esses lares. São simplesmente deixados em suas casas até que,
por total incapacidade morram sem que se note, até que o mal cheiro alerte os
vizinhos…
Sensacionalismos à parte, a
questão que se impõe é a importância que damos a este assunto. E não me refiro
à situação dos idosos em geral, quero dizer a atenção que damos aos nossos
próprios velhos, avós e pais. A velhice é coisa para não se pensar e os velhos
só atrapalham nossas vidas. Será um exagero dizer isso dessa forma? Isso não é
connosco? Será mesmo que damos a atenção necessária aos nossos velhos ou nos
limitamos a suprir suas necessidades sem nos importar de fato com o que mais
precisam? Gratidão. Quando se é velho, não importa mais se foram bons ou maus
pais, isso ou assado; são velhos, já viveram suas vidas e nos deram as nossas.
São antes de tudo pessoas que tiveram suas experiências, foram bem ou mal
sucedidos, cometeram erros, aprenderam ou não a corrigi-los; continuam seres
como nós, aprendendo duramente a viver, mas com uma dificuldade acrescida, sem
o vigor de um corpo jovem.
Seus anseios, medos, dúvidas,
angústias são as mesmas de quando ainda eram mais jovens. Nada mudou em suas mentes.
Podem estar mais esquecidos ou com os movimentos mais dificultados mas suas
consciências estão lá iguaizinhas como quando ainda eram jovens, iguaizinhas às
nossas… O que será que sentem ao verem-se nessa condição? Resignados?
Revoltados? Mentes jovens aprisionadas em corpos velhos. A idade física não
altera em nada aquilo em que nos tornamos porque simplesmente continuamos a ser
as mesmas pessoas, apenas mais velhas.
Qualquer um de nós sente-se muito
mal quando é esquecido, desmerecido, achincalhado, seja por que motivo for.
Seremos de qualquer forma só por sermos velhos. É isso que nos reservam os mais
novos. É um mal das nossas sociedades; condenar os idosos ao esquecimento.
Excluir algumas pessoas das nossas vidas só por serem velhos, como se nós não
envelhecêssemos também, tolos que somos.
A meia-idade nos dá um vislumbre
do que será a velhice. Percebemos que o nosso bem-estar dependerá apenas de
duas coisas: da saúde e da compreensão da vida. Como inevitavelmente
padeceremos mais ou menos de doenças, resta-nos buscar o entendimento das
coisas; da vida em toda sua simplicidade e beleza, com todas suas fragilidades
e potencialidades, efêmera mas abundante de oportunidades. Resta-nos aprender a
importância relativa das coisas, do melhor ser do que ter, de se contentar com
o suficiente e prescindir cada vez mais de tudo, de continuar aprendendo do que
achar devemos ensinar. Alguns conseguem descobrir esses tesouros, passam pela
velhice sorrindo, tirando partido da experiência e driblando as debilidades…
Li uma frase: “Os jovens pensam
que os velhos são bobos, os velhos sabem que os jovens são…”
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