Quando se fala de Portugal raramente lembramos de suas ilhas. Apesar de ser o 13º país em área na UE, está
na 3ª posição quando nos referimos à zona económica exclusiva, graças exatamente
ao mar territorial de suas ilhas, imenso patrimônio natural. O país possui duas
regiões autónomas, os arquipélagos dos Açores e da Madeira; os Açores a meio
caminho da América e a Madeira aqui ao lado de África.
Essas duas regiões tão caras ao
Brasil; os açorianos por terem vindo colonizar o litoral sul e a Madeira por
ter servido de ponto de passagem para os viajantes na época da colonização, esses
dois valorosos povos ilhéus marcaram profundamente o nosso país.
Quem já passou pela estrada da
Graciosa na Serra do Mar no Paraná, ou visitou a pequena cidade de São Francisco
do Sul no litoral catarinense, pra não falar no extraordinariamente delicioso
Barreado que se come na baía de Paranaguá, sabe o que é a alma açoriana
encarnada naquele pedaço do Brasil. Da Madeira, nos primeiros tempos, veio o
primeiro pezinho de cana-de-açúcar que continua lá plantado há mais de 500
anos…
São dois territórios de ambientes
naturais distintos, dotados de belezas ímpares que o próprio português
continental desconhece. Os Açores de mar mais agreste e superfície mais plana,
de baleias, vulcões ativos e grandes pastos verdes com seus famosos laticínios;
a Madeira de mar azul profundo e perfil montanhoso, além de seu afamado vinho
e das encostas recortadas em socalcos, com uma infraestrutura turística de
fazer inveja aos destinos mais famosos, é permanentemente visitada devido ao
seu clima ameno durante todo o ano.
O turismo nessas regiões é o mais
importante setor da economia. Vôos constantes ligam-nas à Lisboa e ao Porto,
assim como a outras cidades europeias, em especial no Reino Unido e Alemanha. Ponto
obrigatório de passagem de cruzeiros, o porto do Funchal, capital da Madeira,
recebe no Réveillon quase uma dezena de transatlânticos.
O brasileiro que visita Portugal
não pode deixar de incluir essas ilhas no seu roteiro. Se não pela beleza e
experiência única de natureza, mas principalmente pelo reencontro com suas
origens mais profundas e não menos marcantes.
Assim são os portugueses das ilhas, valentes e trabalhadores, aprenderam a domar a natureza rude e transformar o
inóspito num lar. De sotaques acentuados (às vezes é preciso legendar as
imagens da televisão), com os olhos no mar e pés firmes na sua terra, essa gente
de fibra trouxe para o Brasil essa força e gana de tirar da terra o seu
sustento, de privilegiar o comer e o convívio em família, de cultuar os santos
católicos que nos valem quando a natureza nos assusta. Dentre os tons da alma
do brasileiro, também estão em especial, os azuis desses portugueses do mar.
Quando vim pela primeira vez a
Portugal, conheci no vôo três irmãos, duas senhoras e um senhor dos seus 70 e
tal anos. Era a primeira vez que voltavam aos Açores desde que emigraram para o
Brasil há mais de 50 anos. Apesar do cansaço e do desconforto
das quase dez horas de cadeira, vinham com seus rostos marcados de rugas, rasgados num sorriso de orelha a orelha. Quando o piloto avisou a aproximação de
Lisboa, esticaram-se para a janela como meninos que foram, a espreitar aquilo que
mais ansiavam. Depois dos seus aplausos efusivos na aterragem, despedi-me e perguntei-lhes
pela disposição para mais duas horas e meia de viagem. O irmão respondeu jocoso:
- Cá por mim ia a nadar!
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