É constrangedor constatar o
comportamento infantil e displicente do brasileiro em relação à grave situação
política em que vive. Para o olhar do estrangeiro é incompreensível e
deprimente. Para um português que connosco se assemelha, motivo de chacota. Apesar
de viver em muitíssima menor escala o drama dos escândalos políticos, não
brinca com isso ou faz do sério problema, motivo de piada, quando muito
escrachada nos carros alegóricos do seu comportado carnaval. Nada se compara à
banalização do crime político, do mesmo modo com que se banaliza a violência,
companheira arrasadora de todo brasileiro.
Uma escritora portuguesa poetizou
o modo de viver do brasileiro dizendo que este engana a vida com a alegria, por
achar que a tristeza não faz parte da natureza. Eu endosso esse olhar
estrangeiro sobre nós, mas complemento dizendo também que preferimos o engano a
lidar com o problema. Está em nós essa fuga do sério trabalhoso e chato, para a
brincadeira que é mais fácil e do gosto de todos. Não encarar o problema ou
limitar-se à reclamação inócua são traços de quem ainda não amadureceu.
Assim como a exposição massiva e
diária das cenas de violência urbana possa ser até mesmo entendida como normal,
a avacalhação da política faz pensar que é assim mesmo e não há nada que se
possa fazer para mudar. O resultado não pode ser diferente do total alheamento
do cidadão comum, que prefere brincar com seu sofrimento no lugar de
contestá-lo. É sem dúvida uma característica do brasileiro, como a do português
que no lugar da brincadeira, prefere o lamento.
Dois povos, duas escalas
diferentes do problema mas a mesma imaturidade que os impede de o atacar.
Apesar de sociedades com idades diferentes, ambas padecem da mesma falta de
aplicação para enfrentar seus problemas. Fugir e esperar que um Salvador da
Pátria, um Dom Sebastião apareça para nos acudir de tantas desgraças; como se
não fôssemos nós mesmos os próprios responsáveis por todas elas.
Não foi ao acaso que Portugal
saiu de um regime monárquico para uma república tíbia que degenerou numa
ditadura, e essa por sua vez, suprimida por um golpe militar que desembocou num
sistema bipartidário que só fez o poder oligárquico mudar o nome do regime. Da
mesma forma em que no Brasil, a descolonização custou-lhe a imposição de um
imperador, e mais tarde presidentes republicanos que em nada representavam o
povo, senão os mesmos grupos de poderosos que locupletam-se no governo até hoje.
Não há e nunca houve iniciativa popular que tomasse o seu destino nas mãos. Em
nossas histórias nunca foi o povo a governar-se de verdade.
As mudanças duradouras na
história chamam-se revoluções, não golpes. Com todos os efeitos secundários que
trazem, ainda assim são capazes de promover as reformas que num regime
convencional poderiam demorar décadas para se mudar a educação e mentalidades.
Não se pode ingenuamente acreditar que os processos democráticos formais
poderão corrigir o rumo das coisas, porque simplesmente os poderosos não
atuarão contra si mesmos. Uma revolução armada ou pacífica, onde os cidadãos
verdadeiramente oponham-se a serem governados por quem não lhes representa é a
única alternativa. Retomar o poder. Somos capazes disso? Acho que não! Talvez
seja melhor esperar por alguém que numa eleição democrática, blá, blá, blá…
Um problema não se corrige se não
for admitido em primeiro lugar e estivermos comprometidos a resolvê-lo em
segundo lugar. Temos noção de que as coisas não estão bem. Quereremos de fato
encontrar uma solução ou vamos ficar pela sacanagem ou chororô? Não estaremos
esperando que alguém venha nos salvar? Triste sina de quem não cresce!
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