Faz parte da nossa natureza
moral, do nosso primitivismo humano, amealhar coisas para depois trocar por
outras que desejamos. Mais que precisamos, queremos ter coisas. É o nosso velho
materialismo a funcionar.
Inventamos o dinheiro para
facilitar isso e ainda bem! Se assim não fosse, não poderíamos trocar nossa
mão-de-obra por moeda, e com ela, além do pão nosso de cada dia, sermos livres
para poder comprar as coisas que desejamos. É por causa dessa nossa necessidade
que a tal “mão invisível” continua nos movendo e girando o mundo... Graças a
isso vamos conseguindo estabelecer regras para viver em conjunto, escrevendo leis
e recorrendo à sua força para manter tudo nos eixos… Sem o dinheiro e a troca
do trabalho pelo salário não existiria o modelo de sociedade que conhecemos.
Mal não faria para o nosso
desenvolvimento se não fosse outra característica humana; a avareza, e com ela,
o acúmulo da riqueza. Desde que inventamos a moeda de troca, vimos acumulando dinheiro
e o concentrando cada vez mais nas mãos dos que têm esse poder. O crescimento
da desigualdade financeira acarreta todos os males sociais, e num determinado
grau, a deterioração dos valores morais em que se baseiam todas as sociedades. Haverá
um limite para isso? Poderemos suportar tanta desigualdade até quando?
As crises e conflitos sociais, em
diversos lugares e com diferentes intensidades, originam-se exatamente na perda
desses valores, causada por sua vez pelo agravamento da desigualdade. Um
valioso estudo levado a cabo por Richard Wilkinson e Kate Pickett, publicado no
livro “O Espírito da Igualdade” demonstra-nos claramente o efeito nocivo desse
tipo de desigualdade. Não sendo exclusividade das sociedades menos
desenvolvidas, mas surpreendentemente em países como os Estados Unidos e o
Reino Unido!
Da mesma forma que a mão-de-obra
assalariada pode possibilitar a estruturação de uma sociedade equitativa, a
acumulação, os privilégios económicos e a má distribuição da riqueza conduzem à
crise. Quando a acumulação empurra a remuneração do trabalho para o limite da subsistência,
equivale mesmo dizer à escravidão reinventada, sem o domínio da força
legalmente instituída, a sociedade desfaz-se em crises que culminam em
revoluções.
Teorias sobre a exploração do trabalho
e práticas desastrosas de modelos económicos já demonstraram o seu falhanço. O
Capitalismo e as políticas sociais têm demonstrado sua adaptabilidade e eficácia
em todas as sociedades. Não se trata aqui da exploração de um outro caminho,
mas sim do inevitável controlo e mitigação das desigualdades que minam o acertado
modelo existente. A ideia do Rendimento Básico Incondicional é uma das propostas
em cima da mesa.
A natural e salutar diferença
entre os homens não justifica, ou pode servir de explicação, para a
desigualdade da distribuição da riqueza. Se de fato existe, só podemos presumir
que é por não estarmos suficientemente despertos para o problema, ou ainda,
suficientemente moralizados e motivados para repartir e usufruir de uma vida
mais confortável com o bem-estar de todos.
A História demonstra os avanços
conseguidos às custas de violentas revoluções, sem as quais dificilmente
aconteceriam. Podemos dizer que já não há condições para que se repitam, que o
estado das coisas dificilmente permitiria mudanças profundas. Nada nos garante
que não aconteçam, ou melhor, tudo nos garante que acontecerão porque
inexoravelmente progredimos. Estejamos atentos.
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