A polémica causada por recentes
exposições de arte e a massiva abordagem das questões sobre a sexualidade e o
gênero humano na mídia e nas escolas têm originado alguma inquietação, e até
mesmo uma certa revolta, de segmentos da sociedade que desaprovam esta
tendência. O que até então era tido como avanço e modernidade esbarrou no
conservadorismo de alguns. E não são poucos. O que está por trás disso? Não
seremos assim tão modernos?
Tomemos o seguinte argumento:
“Sua liberdade acaba quando começa a minha.” Por mais liberais e modernos que
sejamos, não contrariaríamos certamente esse princípio por que nesse caso, não
haveria ordem ou o respeito pelo outro para se viver em grupo. O próprio
conceito de viver em grupo nos obriga a abrir mão de alguma liberdade para que
possamos viver em harmonia. As diferenças são aceitas até certo ponto. O que
passa daí já não se considera normal, ou em outras palavras, aceito pela
sociedade. O que a sociedade não aceita é proibido em Direito. Aquilo que possa
ser comum, não necessariamente é normal e, se veio a tornar-se comum não sendo
normal, certamente chegará a um limite, na medida em que as pessoas comecem a
sentir suas liberdades afetadas. Nesse caso, ou a lei muda e cerceia o abuso,
ou aquilo que deveria ser encarado como discordância pessoal, passa a ser visto
pejorativamente como intolerância de uns poucos e adotado pela maioria. Podemos
dizer em sã consciência que se alguém discordar de um determinado comportamento
anormal estará sendo intolerante? Não será mais correto interpretar que se
chegou ao limite?
Das características mais
marcantes da nossa época, está a comunicação instantânea entre todas as pessoas
e a total liberdade de se dizer o que se quer, na maioria das vezes, sem
qualquer cuidado de análise e interpretação, tomando-se o discurso da moda como
correto e indiscutível. Paradoxalmente o excesso de liberdade de opinião criou
a ditadura da moda. As modas passam e as opiniões podem mudar. O que fica,
desde que o homem é homem, são seus valores morais, e mais não faz o Direito,
que definir as tolerâncias de desvio admitidas para esses valores.
Permitir que se chegue ao limite
é perigoso, normalmente acaba em violência, e quando se chega a esse ponto,
todos perdem a razão. O que assistimos passivamente é o esticar da corda das
opiniões da moda. Ninguém quer passar por reacionário, retrógrado, intolerante
e por aí vai. Preferimos dar de ombros a dizer realmente o que pensamos, mesmo
que sejamos do contra. Somos em parte responsáveis por esse estado de coisas
porque nos abstemos de reclamar quando ainda é cedo. Na verdade, nosso
comportamento é assim como o do português, que já foi dito de “brandos
costumes”, confundindo omissão displicente com tolerância responsável. Outros
povos ditos mais avançados que nós são também conhecidos pela tolerância em
relação a determinados comportamentos sociais. Não se engane entretanto quem
achar que essa tolerância permite tudo, pelo contrário, o mínimo abuso do que
se considera o limite é severamente contestado e reprimido imediatamente pela
lei. Somos diferentes, preferimos deixar levar e ver no que vai dar.
Não seria mais responsável pensar
assim? Os tempos mudam e os comportamentos também. Os mais velhos devem
adaptar-se aos tempos mas não podem nunca deixar de exercer o seu mais
importante papel. O de serem mais experientes e responsáveis. De prezarem e
fazerem valer o que é certo do ponto de vista moral. Saberem separar o que são
as modernices que nos fazem progredir daquelas que nos fazem retroceder.
Já houve tempo em que mulher
sequer era considerada cidadã. Hoje queremos que haja igualdade de tratamento
para qualquer cidadão, independentemente do sexo, raça ou qualquer outra
diferenciação. Do mesmo modo, queremos também que certas coisam não mudem, só por
não estarem na moda, simplesmente porque há coisas que não mudam e isso tem que
ser respeitado.
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