O tempo é mesmo
uma diferença entre nós. E não é por causa do fuso horário.
Nós brasileiros
acostumados às americanices e correndo atrás do prejuízo, passamos pelo tempo e
não o vemos passar… O português tem outro compasso; talvez porque tenha quatro
estações e saiba esperar…
Uma ocasião fui
à uma loja e tirei a senha 33. A pessoa que estava sendo atendida era a senha
11. Estavam ali sentadas comportadamente cerca de 20 pessoas à espera. Como
demorava muito, saí e ao voltar 15 minutos depois, ainda estava lá o mesmo
senhor a ser atendido calmamente. Aproximei-me para ver o que acontecia e ouvi
num tom de voz baixo e pausado: - Não, não. O senhor não entendeu. Vou
explicar-lhe novamente… As 20 pessoas continuavam lá sentadas em silêncio…
nenhum pigarro…
Aqui tudo se
faz sem pressa e pode ter certeza que o pedido do hamburger que se faz no
terminal da loja vai demorar uma eternidade até chegar à bandeja… Qualquer reclamação
pode ser compreendida; o atraso não. As coisas fazem-se no tempo que for necessário.
Qual é a dúvida? Para que correr se o ônibus passa somente naquele horário no
ponto? Por que gastar mais agora se ainda não estamos na época dos saldos? Por
que comprar o melão mais caro se ainda não estamos no Verão?
Nós brasileiros
não somos assim. Queremos tudo agora e rápido. Engolimos a última garfada
enquanto tiramos a carteira para pagar a conta. Crescemos assim e achamos que
deve ser assim. Tudo rápido. Sem pensar muito. Se pensarmos muito, o tempo já
terá passado. Se perdemos tempo, não teremos tempo para matar. É preciso matar
o tempo, esse tal que não nos deixa pensar…
Uma vez levei
minha irmã que me visitava, a uma sorveteria muito famosa aqui no bairro. Havia
uma longa fila que já se prolongava para fora da loja. Aquilo ia demorar largos
minutos. Excepcionalmente naquele mês haviam colocado um quiosque do lado de
fora para vender outros produtos. Como a fila ali era pequena, não pensei duas
vezes, fiz ali o meu pedido, entrei na loja e voltei sorridente com os sorvetes
na mão… Contei o truque para minha irmã que observou perspicaz: - Vocês saíram
do Brasil, mas o Brasil continua dentro de vocês! É assim que somos… Enquanto
corri esperto na frente dos outros para comer logo o sorvete, os portugueses
continuavam calmamente a conversar na fila, aproveitando mais malandros do que
eu, o Sol gostoso da Primavera…
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