Em todas estruturas sociais há classes
dos mais fortes e dos mais fracos, sejam jovens e velhos, ricos e pobres. A
evolução dos ideais de solidariedade e justiça originou costumes e leis para
que os mais fortes protegessem os mais fracos. O Estado Social e a tributação
progressiva são exemplos disso. A Justiça coíbe e pune os abusos das regras. O
Ministério Público existe para defender os interesses em nome da sociedade. Em
tese tudo está previsto e bem organizado. Inevitavelmente não é o que acontece
pois a maior parte, mais fraca, da sociedade não é organizada e não se vê
representada. A política dos regimes democráticos ocuparia esse papel se de
fato representasse esse grupo, o que na prática não funciona assim.
Admitindo-se que a esmagadora
maioria não está preparada, e mesmo sequer interessada, em criticar e discutir
os problemas que a afligem, temos a minoria, mais forte, totalmente livre para
organizar governos que a favorecem, em detrimento dos mais fracos. A evolução
do sistema capitalista, aliada à natureza egoísta e gananciosa do homem,
transformaram os princípios igualitários democráticos numa verdadeira ditadura
dos endinheirados. A liberdade do cidadão, maior direito definido em todos os
regulamentos sociais, à parte do direito de escolher em quem votar, reduziu-se
a poder escolher comprar entre um ou outro produto, cujos ganhos sempre acabam
por reverter aos que detêm os meios. A produção da riqueza que toda a sociedade
gera cada vez mais concentra-se nestes; tudo reduzindo-se a consumir por um
lado e acumular de outro…
O direito do voto, também ele
conspurcado, restringe-se à escolha de nomes diferentes entre aqueles que
representam os interesses dos mais fortes e, não menos, aos seus próprios
interesses individuais. Esse é o sistema montado em todas as sociedades; assim
o comprova a desigualdade na distribuição da riqueza em todo mundo.
De que maneira alterar esse
mecanismo tão sólido quanto cruel? De que maneira o maior segmento das
sociedades pode de fato ser representado e defendido? De que maneira pode haver
mudança sem o recurso à revolução e a guerra?
É parte integrante da maioria,
uma classe média composta por profissionais e outras categorias, devidamente
informada e preparada para este objetivo. Entretanto, individualizados perdem o
poder de pressão que somente um grupo mobilizado e organizado consegue criar.
Conjuntamente com uma mídia livre, que leve ao alcance de todos, a mensagem de
insatisfação com propostas de mudança, as associações profissionais, assim como
demais agremiações, reunidos num único movimento reivindicatório, poderia fazer
frente aos interesses da minoria mais forte. Cabe à sociedade civil, e sua
classe média instruída e informada em especial, esse desígnio.
A consubstanciação desse propósito
deveria ser um plano elaborado por especialistas nas diferentes áreas, tais
como Saúde, Educação, Segurança, Finanças, Meio-Ambiente, Política Externa,
Justiça e Constituição, amplamente discutido e aprovado pela direção desse
movimento popular. A eleição de novos deputados e membros do executivo estaria
condicionada à submissão dessa vontade popular, através da assinatura de um
termo de compromisso para sua viabilização e execução, sob pena da retirada do
mandato, independentemente de orientação partidária quando filiados. A perda de
privilégios e imunidades dos governantes, assim como a responsabilização por
seus atos administrativos estariam entre as primeiras medidas a serem tomadas.
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