Dia de faxina. As janelas abertas deixavam o ar frio da manhã entrar pela sala. Bonifácio escondido no guarda-roupa e ele ainda de robe, sentado no seu cadeirão, lia atentamente seu “Diário de Notícias” como fazia religiosamente há anos. Andou mesmo chateado com o jornal, quando depois de tantos passou de diário a quinzenal… casmurrice de velho. Estava entretido com as notícias do Brasil, país que lhe despertava muito interesse e curiosidade, quando o canto da diarista o despertou a atenção. “É tão tarde… a manhã já vem… Todos dormem… a noite também…” Desde que a senhora moldava voltou ao seu país, passou a contar com uma brasileira sempre bem-disposta, como ele próprio dizia. Altamira era o seu nome e costumava cantar enquanto trabalhava. O velho com o jornal em riste levantou os olhos e aguçou o ouvido. “Só eu velo… o boi pega neném…” Achou mesmo piada… muito distante daquele acalanto, imaginava um boi e a criança a correr quando Altamira entrou pela sala, descalça como de