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De uma boa conversa em grupo surgiu a discussão de um tema que aflige todos os pais que somos. O que buscam nossos filhos, tão diferente daquilo que desejaríamos?

Um dos colegas, professor universitário, perguntou-nos a que velocidade assistíamos os vídeos do YouTube. Estranhamos não ser outra que não a normal, até mesmo porque não nos passaria pela cabeça aumentar o raio da velocidade! Ele respondeu então que seus alunos, mais ou menos da geração de nossos filhos, regra geral veem os vídeos com mais velocidade.

O que nos pode dizer isto? O que de fato faz diferença entre assistir algo no seu próprio tempo ou num ritmo um pouco mais acelerado? Que diferença pode haver no modo de apreciar?

Algumas pessoas, mesmo da nossa geração, têm por hábito abreviar uma discussão ou simples conversa porque antecipam o desenrolar e vão mais rápido ao ponto em questão. São mais argutos e não querem perder tempo em chegar às possíveis conclusões que pré-concebem, ou mesmo anseiam por outro encaminhamento mais direto, que os possa levar a uma nova visão que até então não haviam pensado. Tal comportamento é observado de forma recorrente nos alunos pelo professor e notado pelos pais em seus filhos, o que nos causa certo desconforto ao sentir que não nos prestam a devida atenção, acompanhando-nos no nosso ritmo próprio.

Nessa conversa tivemos a oportunidade de ouvir o que pensava um filho, por volta dos seus trinta anos, de um dos colegas que participava da conversa. Disse a certa altura que como o pai sempre repetia-se com suas ideias e opiniões, não dava muita atenção ao que dizia porque já sabia o que ia ouvir e aquilo, por mais bem intencionado fosse o pai, já não respondia aos questionamentos do filho, daí este, como natural entre os jovens ainda sem experiências, buscar entre os da sua geração uma resposta mais afinada com os seus interesses; uma atitude perfeitamente compreensível para qualquer pai.

Mas se é percetível entender que se quer abreviar uma história que já se sabe o fim, o que dizer quando não se sabe num vídeo do YouTube?

É inevitável não referir o efeito da Internet nessa geração.

Enquanto nossa geração despendia tempo e esforço para reunir informações dispersas em bibliotecas, a geração de nossos filhos tem tudo o que procuram num instante na ponta do dedo sobre a tela de um celular. Uma quantidade infindável de informação ao alcance de qualquer um; textos, imagens, áudios, vídeos, bibliotecas e museus inteiros, centros de pesquisa e universidades, institutos, arquivos públicos e particulares, enfim tudo o que nem podemos imaginar ao alcance de um simples teclar. Nunca de fato foi tão amplo e franco na humanidade o acesso à informação.

Mas não é tudo. Seja pelo uso que possa ser dado, seja pela qualidade e utilidade da informação, acessá-la simplesmente nada produz sem que se a interprete, e aí recai a maior dificuldade da grande maioria dos jovens que não possuem experiência suficiente para interpretar, criticar e concluir, formando sua própria opinião, criando uma nova e única ideia, como uma tese que se pode defender diante de uma banca de examinadores.

Além da enxurrada de informações que consideram úteis, e que devem assimilar num curto espaço de tempo para melhor competir num mundo de enriquecimento rápido, há por outro lado o fator risco que o mesmo filho referiu na conversa. Disse na sua opinião, que a decisão de enveredar por um atalho através de uma startup por exemplo, no lugar de uma longa carreira numa corporação, estava ligada ao "colchão" que é ou não herdado dos pais, ou seja, se diante à enorme pressão para ganhar dinheiro para comprar a casa própria e cobrir suas despesas correntes, pode ou não contar com essa herança e arriscar mais num atalho, ou caso não possua recursos, tenha que forçosamente os amealhar ao longo de anos numa dura carreira.

O maior ou menor consumo de informações, poderia por esse motivo depender de uma maior ou menor liberdade para trabalhar de forma autônoma ou como empregado, dispondo por isso de mais ou menos tempo, embora não obrigatoriamente.

Um outro colega do grupo destacou a completa mudança de paradigma na geração de nossos filhos, no que diz respeito às pretensões pessoais de realização e bem-estar. Diferentemente de nós que ainda nos preparávamos para uma carreira bem sucedida, nossos filhos diante da velocidade das mudanças e uma certa alteração de valores, optam por uma vida mais modesta, com mais tempo livre para estar em família e poder gozar de saúde num meio dito amigo do Ambiente, sendo o principal fator dissuasivo para seguir uma carreira, o próprio fato de já não existirem empregos e empresas permanentes.

Seja como for, jovens serão sempre jovens e inovadores. Ávidos de tudo que é novo, adeptos de modas e rápidos em assimilar o máximo que lhes interessa. Não poderiam também deixar de filtrar os conteúdos da Internet.

Como jovens, são imaturos, precisam ainda palmilhar seus próprios caminhos, e só depois então, com suas experiências, poderem estar mais preparados para a verdadeira análise crítica dos fatos ao invés de continuarem meros consumidores de informações.

Inevitavelmente é preciso dizer também, e a nossa experiência demonstra bem isso, que nossos filhos passarão a ter gostos e opiniões muito parecidas com as nossas, que mesmo antes contradiziam.

Talvez possamos dizer em jeito de conclusão que, também com nossos filhos, apesar do mundo estar sempre a acelerar pela janela, há sempre o momento em que descemos e paramos para gozar aquele lugar único e maravilhoso, que somos nós mesmos, nesse mundo que gira rápido sob os nossos pés!

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