Sendo natural a desigualdade é preciso regulá-la para
evitar os exageros.
Desde a Antiguidade, quando
começamos a pensar nisso, preocupamo-nos em criar medidas para limitar os
abusos causados pela natural desigualdade entre os homens, e apesar dessa
pretensa ideia de igualdade excluir (!) alguns naquele tempo, podia
considerar-se que ao menos buscava-se a justiça.
No mínimo moderna era essa ideia de
justiça, já que até então, além da inapelável justiça dos deuses, só se cuidava
determinar o tipo da pena a submeter a quem prevaricasse contra aquilo que se
considerava justo. Mas o que se pode considerar justo? Depende esse conceito da
época e do lugar, ou só há uma única justiça imutável para a natureza desigual
dos homens?
Arrisco dizer que o senso da
justiça está na consciência dos homens e esse senso é o mesmo em toda
humanidade. São os interesses egoístas de cada um ou de grupos que acabam por
desvirtuar esse senso comum e criar as injustiças. Estando no próprio homem
esse sentido como também a causa do problema, convivemos com injustiças desde
que o mundo é mundo.
Se não fosse corrompida, quão
bela seria esta instituição de olhos vendados. E se a mitologia antiga já se
preocupava com isso, também deu a essa figura uma espada para agir forte quando
fosse preciso. Diante das desigualdades, se não houver força para evitar os
abusos, de nada adiantaria. A justiça não pode deixar também de executar firmemente
a lei.
Estabelecida a justiça, então a
lei deve traduzir o senso do que é justo. Não é bem assim! A lei que as
sociedades elaboram não pode ser considerada integralmente justa; porque é
mutável e se adapta aos interesses dos mais fortes que a definem, em detrimento
dos mais fracos que não têm esse poder. A lei é a de homens desiguais.
Escravos e mulheres já são
considerados iguais aos iguais e por isso, podemos afirmar que apesar de
continuarmos natural e saudavelmente desiguais, vimos buscando ao longo do
tempo regular uma justa igualdade entre nós. Esse objetivo que nos martela a
consciência, ainda vai longe de se alcançar mas estamos inexoravelmente no seu caminho.
Não há como contrariar isso, nem com toda força abusiva do mundo.
Se a lei é minimamente justa e
aceita, já não se pode considerar o mesmo quando é preciso executá-la. É aí que
a justiça mais peca, desmoronando toda a trabalhosa construção do acordo que
faz com que cada um respeite o direito do outro. Ou se aceita essa falha, nos
omitindo diante das injustiças ou se luta para mudar. Não é a toa que as
sociedades mais desenvolvidas só o são, exatamente porque a lei ali é cumprida.
Como no resto do mundo, Brasil e
Portugal vivem momentos conturbados exatamente por não ser aplicada a lei, ser
dificultada a sua ação ou mesmo a sua reescrita para distorcê-la. É quando a
salutar desigualdade entre os homens se torna doentia, fazendo uns mais iguais do
que outros. Não se trata de um problema político. É um problema moral.
A moral humana é o que é. Só
podemos esperar que a justiça seja feita!
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